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Enquanto não se alterar a política de preços da Petrobras, o drama dos combustíveis vai continuar

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Este texto faz parte do Infoserv – Junho 2018.

A passagem de Pedro Parente no comando da Petrobras foi curta, mas os estragos foram enormes. Nomeado pelo ilegítimo Michel Temer logo após o golpe que derrubou a ex-presidente Dilma Rousseff, Parente pediu demissão no último 1º de junho após a greve dos caminhoneiros e a pressão popular contra sua gestão. Ele foi o principal responsável por mudar a política de preços da Petrobras, que passou a vincular o valor dos combustíveis nos postos às variações diárias do barril de petróleo no mercado mundial.

Isso significa que quando sobe a cotação do barril nas bolsas de valores dos Estados Unidos, imediatamente aumentam os preços da gasolina, do diesel e até do gás de cozinha.

Qual o problema da política de preços de Pedro Parente e Michel Temer?

A principal questão é que o custo da produção de petróleo no Brasil é muito menor do que o preço praticado internacionalmente. O custo nacional é estimado entre US$ 30 a US$ 40 o barril, enquanto no mercado internacional é comercializado a cerca de U$ 80. Isso significa que se a Petrobras considerasse apenas os valores nacionais de produção, a gasolina e o diesel seriam vendidos por um preço muito abaixo do atual, sem prejuízo à empresa!

Nenhum país do mundo atrelou o preço do combustível internamente às cotações diárias do mercado mundial.

Quem se beneficia com a política de preços atual?

São dois os setores que mais se aproveitam da situação atual: grandes acionistas privados da Petrobras e as companhias petroleiras internacionais. Ou seja, os mesmos setores que colocaram Pedro Parente a frente da empresa, que é uma estatal de capital misto. A nova política de preços, atrelado ao preço internacional do barril, busca aumentar a margem de lucro da empresa às custas de toda a população brasileira, que sofre os impactos dos altos preços dos combustíveis direta e indiretamente. Quem ganha com o aumento da taxa de lucro é um punhado de acionistas e grandes investidores.

O outro setor, as petroleiras internacionais, é beneficiado na medida em que a Petrobras abre a mão de refinar o petróleo no Brasil. Para se ter uma ideia, com a atual política de preços, 30% da capacidade das refinarias está ociosa. Exportamos óleo cru para outras petroleiras que, fora do Brasil, refinam o petróleo e nos vendem o combustível. O mercado nacional fica escancarado para as empresas estrangeiras (Shell, Chevron e Exxon), que nos vendem combustível a preços altos, garantidos por Pedro Parente, e remetem bilhões de lucros para fora do país.

A autossuficiência em petróleo bruto e refinado é questão de soberania nacional. Por isso que investimos décadas na Petrobras. Através dela podemos vender mais caro para fora e mais barato aqui dentro. Era isso que estava sendo feito antes de Temer chegar e colocar Pedro Parente (o ministro do apagão de FHC) na presidência da empresa. A Petrobras foi construída com o trabalho de todos os brasileiros. É obrigação garantir preço justo à população.

Diminuir os impostos resolve o problema?

Com a greve dos caminhoneiros, o governo Temer reduziu o preço do diesel em R$ 0,46, para um período de 60 dias. No entanto, a política de preços não foi alterada, a diminuição é feita via cortes em impostos. A medida pode resolver o problema (dos caminhoneiros) por algum tempo, mas não garante que ocorra uma nova disparada no diesel em alguns meses. É fácil entender o motivo. Hoje o barril do petróleo está perto dos U$ 80 dólares. Se o preço do barril chegar a US$ 130, como já aconteceu, o diesel vai ficar muito mais caro do que era antes da greve. O pior é que, além de ser ineficaz, o corte nos impostos do combustível ainda compromete a vida do povo brasileiro, que precisa de mais investimentos em saúde, educação e segurança.

E agora?

Pedro Parente caiu e Ivan Monteiro, seu braço direito, assumiu seu lugar. Mas nada indica, até agora, que ele ou governo federal tenha vontade de política de alterar a política de preços atual. No entanto, com a greve dos caminhoneiros, a população começa a entender o jogo sujo do “mercado” que tomou conta da Petrobras e prejudica a todos. A pressão por uma política soberana de preços só tende a aumentar. Com novas mobilizações, greves e denúncias é possível retomar a Petrobras para o povo brasileiro.

Sobre o “valor de mercado” da Petrobras

Por Vitor Hugo Tonin, economista e assessor da Intersindical

A Rede Globo faz questão de defender diariamente a atual política de preços de Michel Temer.

O principal argumento é o “valor de mercado da empresa”. Mas o que isso significa?

Trata-se do preço das ações da Petrobras que são negociadas na bolsa de valores em São Paulo ou em Nova York.

Alguém compra ação da Petrobras por dois motivos:

1) Receber parte da distribuição de lucro da empresa;

2) Vender mais caro que comprou, que são os especuladores.

A queda no preço das ações da Petrobras prejudica apenas os especuladores, os apostadores da bolsa de valores. Em nada prejudica o caixa da empresa e nem o seu valor real que continua dependendo dos ativos e passivos reais da empresa.

O mercado secundário de ações que a Rede Globo usa para fazer terrorismo contra o povo brasileiro é um mercado de apostas.

Dito isso, a pergunta fica clara: a Petrobras deve agradar um punhado de acionistas que especulam com a empresa ou os 205 milhões de brasileiros e brasileiras que construíram a empresa quando ninguém acreditava no nosso país?

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